Fernando Pessoa - poemas
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Alberto Caeiro
 
XLIX - Meto-me para Dentro
 
 
     Meto-me para dentro, e fecho a janela.
     Trazem o candeeiro e dão as boas noites,
     E a minha voz contente dá as boas noites.
     Oxalá a minha vida seja sempre isto:
     O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
     Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,

     A tarde suave e os ranchos que passam
     Fitados com interesse da janela,
     O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
     E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
     Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
     Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.
     E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.

 
 


 
 


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