Li hoje quase duas páginas
      Do livro dum poeta místico,
      E ri como quem tem chorado muito.
     Os poetas místicos são filósofos
doentes, 
      E os filósofos são homens
doidos.
      Porque os poetas místicos dizem que
as flores sentem 
      E dizem que as pedras têm alma
      E que os rios têm êxtases ao
luar.
      Mas flores, se sentissem, não eram
flores, 
      Eram gente;
      E se as pedras tivessem alma, eram cousas
vivas, não eram pedras;
      E se os rios tivessem êxtases ao
luar,
      Os rios seriam homens doentes.
      É preciso não saber o que
são flores e pedras e rios 
      Para falar dos sentimentos deles.
      Falar da alma das pedras, das flores, dos
rios,
      É falar de si próprio e dos
seus falsos pensamentos.  
      Graças a Deus que as pedras são
só pedras, 
      E que os rios não são senão
rios,
      E que as flores são apenas flores.
      Por mim, escrevo a prosa dos meus versos 
      E fico contente,
      Porque sei que compreendo a Natureza por
fora;
      E não a compreendo por dentro
      Porque a Natureza não tem dentro;
      Senão não era a Natureza.  |