Fernando Pessoa - poemas
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Alberto Caeiro
 
XXVIII - Li Hoje
 
 
     Li hoje quase duas páginas
     Do livro dum poeta místico,
     E ri como quem tem chorado muito.

     Os poetas místicos são filósofos doentes, 
     E os filósofos são homens doidos.

     Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem 
     E dizem que as pedras têm alma
     E que os rios têm êxtases ao luar.

     Mas flores, se sentissem, não eram flores, 
     Eram gente;
     E se as pedras tivessem alma, eram cousas vivas, não eram pedras;
     E se os rios tivessem êxtases ao luar,
     Os rios seriam homens doentes.

     É preciso não saber o que são flores e pedras e rios 
     Para falar dos sentimentos deles.
     Falar da alma das pedras, das flores, dos rios,
     É falar de si próprio e dos seus falsos pensamentos.  
     Graças a Deus que as pedras são só pedras, 
     E que os rios não são senão rios,
     E que as flores são apenas flores.

     Por mim, escrevo a prosa dos meus versos 
     E fico contente,
     Porque sei que compreendo a Natureza por fora;
     E não a compreendo por dentro
     Porque a Natureza não tem dentro;
     Senão não era a Natureza.

 
 


 
 


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