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Fernando Pessoa
Porque, ó Sagrado, sobre a minha vida 
 
Porque, ó Sagrado, sobre a minha vida 
Derramaste o teu verbo? 
Porque há-de a minha partida 
A coroa de espinhos da verdade [?] 

Antes eu era sábio sem cuidados, 
Ouvia, à tarde finda, entrar o gado 
E o campo era solene e primitivo. 
Hoje que da verdade sou o escravo 
Só no meu ser tenho[,] de a ter[,] o travo, 
Estou exilado aqui e morto vivo. 

Maldito o dia em que pedi a ciência! 
Mais maldito o que a deu porque me a deste! 
Que é feito dessa minha inconsciência 
Que a consciência, como um traje, veste? 
Hoje sei quase tudo e fiquei triste... 
Porque me deste o que pedi, ó Santo? 
Sei a verdade, enfim, do Ser que existe. 
Prouvera a Deus que eu não soubesse tanto!

   
 
   
 


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